Para quem mora ao sul do globo, semana passada aconteceu o equinócio de outono. A palavra vem da junção do latim “aequus”, igual, e “nox”, noite. Daí o equinócio, um dia com a mesma duração que a noite. Na prática, é um momento que marca o final de uma estação e o começo de outra. Como diz Elis Regina, são as águas de março fechando o verão.
Os outonos chegam por aqui com um gostinho agridoce. Por um lado, me animo em saber que meu aniversário e a Páscoa estão chegando, alegrias que alimentam minha criança interior. Por outro, o entardecer que chega mais cedo traz uma certa melancolia. Uma memória latente do fim das férias na escola, talvez?
Por sorte, o outono também chega com muitos céus bonitos pra me distrair. Em Invitation, Mary Oliver escreve assim:
(…) it is a serious thing
just to be alive
on this fresh morning
in the broken world.
I beg of you,
do not walk by
without pausing
to attend to this
rather ridiculous performance.(…) é algo sério
só estar vivo
nesta nova manhã,
neste mundo em pedaços.
Eu imploro a você
não passe reto
sem parar
para presenciar
esta performance
um tanto quanto ridícula.
Mary Oliver - Invitation
(tradução minha)
Equinócios são ferramentas de equilíbrio da natureza. Assim como Mary Oliver, eles nos perguntam: temos dedicado presença em nossas vidas? Estamos pesando bem as doses de passado e futuro?
Há poucas semanas comecei a meditar, e essa talvez seja a maneira mais simples e mais difícil de estar no momento presente. Busco silenciar os pensamentos, mas na maioria dos dias encontro alguma frustração que me distrai. Mas nem tudo são dores: mesmo que ainda esteja longe de alcançar a consciência suprema, tenho aproveitado lindos céus de início de dia.
Outra coisa que o início do outono me traz é a sensação de que o ano começou de verdade. Um desejo de renovação me preenche, e parece que tenho mais energia pra iniciar os dias.
Espero que a magia dos dias outonais bata na sua porta com muita inspiração criativa, como bateu por aqui (inclusive me deu coragem de mandar a primeira edição dessa newsletter!)
Um abraço e até o mês que vem,
Deborah 💌
Meus favoritos do mês
Um livro: Meditação e os Segredos da Mente, de Avadhútika Ánandamitra Ácarya. Pra quem se interessa por meditação ou quer saber mais, recomendo demais esse livrinho de conhecimentos indianos.
Um álbum: Tenho escutado muito esse aqui da Lianne La Havas. Ele é a trilha sonora perfeita pra uma caminhada atrás de folhas bonitas de outono.
Um filme: Dias Perfeitos, do diretor japonês Wim Wenders. Literalmente perfeito pra quem está buscando formas alternativas de viver. Bônus: uma trilha sonora maravilhosa.


